Jogos Beneficentes ao centroavante Gérson em 1994

Fazendo uma triagem no material que vou guardando ao longo dos anos, encontrei a ficha técnica de um jogo que envolveu uma Seleção de Grêmio e Internacional, contra um Combinado dos Atletas de Cristo, que tinha como objetivo angariar recursos para o tratamento do centroavante Gérson, que até 1993 era integrante do quadro de atletas do Sport Club Internacional. Como não eram muitas as informações sobre a partida, resolvi complementar buscando mais dados sobre o atleta e sobre o seu histórico enquanto profissional. Contei com a ajuda dos amigos pesquisadores das mais diferentes localidades do Brasil, a saber: Arthur Eugênio Mathias (Campinas, SP), Edinei de Souza Santos (Tramandaí, RS), Guilherme Nascimento (Santos, SP), Ivan Gottardo (Jundiaí, SP), José Mário Passeto (Nova Santa Rita, RS), Júlio Bovi Diogo (Santos, SP), Marcelo Arruda (São Paulo, SP), Marcelo Ramos Bastos (Belo Horizonte, MG), Paulo Felipe Mangerotti (Porto, POR) e Sílvio Sosa (Rivera, URU) , a todos muito obrigado pela ajuda com dados históricos sobre o atleta, sem suas preciosas contribuições este não seria possível dar o devido destaque e respeito que o atleta merece.

Para situar as coisas, vamos partir do encerramento o ano de 1992, em um intervalo de 10 dias no período de 13/12 a 23/12, dois títulos eram conquistados pelo Internacional, Copa do Brasil e Campeonato Gaúcho, tudo era festa para os lados do Beira-Rio, pois além de todas as conquistas, uma promissora disputa de Copa Libertadores da América entrava no radar colorado. Porém, uma estrela, o centroavante Gérson, começava ali a perder seu brilho e gradualmente iria deixar de fazer parte da equipe colorada.

Dando uma recuada no tempo, vamos até 1983, quando Gérson da Silva, nascido em Santos (SP) a 23/09/1965, iniciou sua carreira profissional no Santos, no peixe atuou até a metade de 1984, quando transferiu-se para o Guarani de Campinas, ficando até o final de 1985, no mesmo período, foi convocado para a Seleção Brasileira Júnior (Sub-20), sendo Campeão Sul-Americano e Campeão Mundial, ambos em 1985.

Voltou ao Santos durante toda a temporada de 1986, foi para o Paulista de Jundiaí em 1987, permanecendo até novembro de 1988, quando foi contratado pelo Atlético Mineiro, estreando curiosamente contra o Internacional, no empate em 2-2, partida válida pelo segundo turno do Campeonato Brasileiro, abaixo a ficha da partida que como previa o regulamento da época, deveria ir para os pênaltis, teve a vitória colorada por 6-5.

No Atlético dono da camisa nove consolidou-se como goleador, chegando a marcar 5 gols na partida em que o Atlético goleou o Caiçara (PI) por 11-0, válida pela primeira fase da Copa do Brasil de 1991, ele próprio já havia marcado o gol da vitória no jogo de ida. Veja abaixo a ficha histórica deste jogo.

Ficou no Galo mineiro até setembro de 1991, entrando em campo pela última vez no empate por 0-0 contra o Democrata de Governador Valadares no dia 15/09/1991, pelo Campeonato Mineiro, neste período chamou a atenção da CBF, sendo convocado para a Seleção nos em 4 oportunidades entre 1989 e 1990. Atuando pelo Atlético foi Campeão Mineiro em 1989 e 1991, além do Troféu Ramón de Carranza em 1990.

Seguiu então para o Internacional, chegando com o peso de ser o homem gol colorado, função que desempenhava muito bem em seu antigo clube, onde havia sido goleador de duas edições da Copa do Brasil (89 e 91). Diputou o estadual de 1991, sendo campeão com o Internacional, marcando 2 gol em 12 jogos, marca essa que estava longe de lembrar sua melhor performance.

Veio o ano de 1992 e junto os gols que todos esperavam é claro dos títulos já mencionados. Na campanha do título da Copa do Brasil de 1992, além de marcar gols, acabou também defendendo a meta colorada, fato ocorrido no Estádio Beira-Rio, na noite de 11 de agosto de 1992, na partida de volta da primeira fase da Copa do Brasil, quando o Inter venceu o Muniz Freire (ES), por 5 a 0, no segundo tempo o goleiro Gato Fernandez foi expulso e como já haviam sido realizadas todas as substituições por parte do Inter, Gérson que então já havia marcado 2 gols no jogo foi para o gol e garantiu o zero no marcador por parte do Muniz Freire.

Foto do Jornal Zero Hora – Edição de 12/08/1992 – Gérson fazendo as vezes de goleiro

O Inter avançou na competição, chegando ao título superando o Fluminense nas finais, sendo Gérson novamente o goleador máximo da competição com 9 gols, completando então sua trinca de artilharia no torneio nos anos 89, 91, 92.

Finalmente voltamos para onde começamos, em meio a comemoração e euforia, algo não ia bem com o artilheiro, segundo o que se comentava, havia desde abril de 1992 uma suspeita no ar sobre Gérson ser portador do HIV, mas tudo ficava meio que encoberto pela boa campanha do clube e igualmente aproveitamento do atleta em campo, na temporada de 1993 as coisas pioraram e ele passou a figurar em raras aparições na equipe, ao todo foram apenas 3 jogos e 1 gol, marcado em um amistoso no dia 28/02/1993, na vitória por 4-1 contra a equipe amadora do Capão da Canoa. Sua última aparição foi na derrota colorada para o Atlético Nacional da Colômbia por 1-0, em 16/03/1993 em partida válida pela Taça Libertadores da América, Gérson substituído por Nando na segunda etapa, aos 27 anos encerrava ali a sua carreira profissional. Ficou no Inter até setembro de 1993 quando recebeu o passe livre. No Internacional foi Bi-Campeão Gaúcho em 1991- 1992 e Campeão da Copa do Brasil de 1992.

Jornal Zero Hora – 1993
Jornal Zero Hora – 1993

Durante o tempo em que esteve afastado até vir a falecer, seu quadro foi piorando, culminando com uma derradeira internação hospitalar na cidade do Guarujá, em março de 1994, diante do quadro e das dificuldades financeiras da família para bancar o tratamento, foram realizadas no mínimo duas partidas beneficentes uma Beira-Rio, reunindo uma Seleção Grenal contra o Combinado dos Atletas de Cristo e outra na Vila Belmiro, onde o Santos enfrentou o Combinando Paulistano, formado por atletas do Corinthians, Portuguesa e São Paulo, além de alguns atletas do próprio Santos, como o caso do atacante Luciano Nunes que acabou marcando o gol do Combinado.

COMBINADO GRENAL 1-2 ATLETAS DE CRISTO
Data: 11/04/1994 (Segunda-feira); Hora: 20:30; Local: Beira-Rio (Porto Alegre, RS) ; Arbitragem: Jorge Ciro Bauer Schaefer; Auxiliares: Adão Alípio Soares e Adilson Amaro da Silveira; Reserva: Amauri Petry; Gols: Simão (AC) aos 12′, Paulinho McLaren (CG) aos 35′ e Émerson (AC) aos 78′
COMBINADO GRENAL: Danrlei, Daniel Frasson, Argel, Agnaldo e Carlos Miguel; Ricardo, Pingo e Carlinhos; Caíco, Paulinho McLaren e Alexandre Gaúcho. Técnico: Antônio Lopes
ATLETAS DE CRISO: Sérgio, Ayupe, Paulão, Aléx Bach e Silvan; Élcio, Simão e Émerson; Alexandre Bochecha, Baltazar e Jairo Lenzi. Técnico: Luís Felipe Scolari

Como se tratava de um jogo beneficente e festivo, muitos atletas foram relacionados e ao longo da segunda etapa, muitas substituições ocorreram, quando praticamente todos os atletas foram substituídos, cabendo informar a escalação dos reservas abaixo:
COMBINADO GRENAL: André, Admílson, Luciano, De León, Jamir, Rubén Paz, Mazinho Loiola, Vílson, Fabinho, Gílson Cabeção e Cláudio Freitas
ATLETAS DE CRISO: Preto, Armindo, Sebben, Amauri, Benê, Zózimo, Sílvio, Arílson, Mânica, Cezar, Sérgio, Márcio e Róbson.

SANTOS 3-1 COMBINADO PAULISTANO
Data: 21/04/1994 (Quinta-feira), Local: Vila Belmiro – Santos (SP), Renda: CR$ 23.226.000,00, Público: 11.613, Arbitragem: Aldo Ferreira Vaz, Gols: Cerezo, Ranielli e Toninho Marques (SFC) e Luciano Nunes (CP)
SANTOS: Edinho, Índio (Dirceu), Marcelo Fernandes (Maurício Copertino), Cerezo e Silva (Marcos Basílio); Dinho (Marquinhos), Gallo e Ranielli; Macedo (Sergio Ramalho), Guga e Paulinho Kobayashi (Toninho Marques). Técnico: Serginho Chulapa.
COMBINADO PAULISTANO: Gilberto (Robinson); Sergio Santos, Caju, Luciano (Cleber), Axel (Rogerio), Gilmar, Zé Renato, Carlinhos (Amaral), Demétrius, Luciano Nunes (Cilinho) e Neizinho (Edilson).

A luta do atacante chegou ao fim em 17 maio de 1994, na cidade do Guarujá em São Paulo, até hoje o caso é envolto em polêmica e revolta, tanto Gérson quanto a família sempre negaram a versão de ele ser portador do HIV. O fato é que não fosse sua doença, certamente sua carreira teria se prolongado por muito mais tempo e certamente muitos outros gols.

Os números do atacante

ClubePeríodoJogosGols
Santos (SP)1983 a 1984 e1986657
Guarani (SP)1984 a 1985599
Paulista (SP)1987 a 19888042
Atlético (MG)1988 a 199115092
Internacional (RS)1991 a 19937739
Seleção Brasileira1989 a 199040
Total335189
Números do atleta conforme informações dos colegas Guilherme Nascimento e Júlio Bovi Diogo (Santos, SP), Arthur Eugênio Mathias (Campinas, SP), Ivan Gottardo (Jundiaí, SP), Marcelo Arruda (São Paulo, SP), Marcelo Ramos Bastos (Belo Horizonte, MG), Paulo Felipe Mangerotti (Porto, POR) e Sílvio Sosa (Rivera, URU)

Cabe ainda informar que segundo o pesquisador Guilherme Nascimento, especialista em Santos Futebol Clube, que Gérson atuou entre os anos entre os anos de 1983 e 1984 em 3 jogos nas disputas da Copa São Paulo de Futebol Júnior, nos respectivos anos, marcando 1 gol na edição de 1984, ano em que o Santos conquistou a Taça.

Também não foram computados as partidas e os gols que ele marcou pela Seleção Brasileira Júnior em 1985, ficando essa pesquisa pendente e quando possível será atualizado aqui no Post.

Saiba mais sobre Gérson acessando os seguintes links: O Canto do Galo, Colorados Anônimos, Terceiro Tempo, Wikipedia, O Futebólogo, ESPN e UOL.

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